terça-feira, 29 de maio de 2007

Olhos " bons de se olhar"

Ela foi-se chegando, de mansinho, e entre envergonhada e determinada, pousou a mão um bocadinho enrugada, mas muito fresca no meu braço e disse, sorrindo:

Eu acho que, enquanto formos capazes de dizer "eu e tu", está tudo bem!

Olhei-a nos olhos - uns olhos bons de se olhar, como costumo dizer, e devolvi-lhe o sorriso.
Compreendi e concordei.
Como concordei!

Enquanto formos capazes de contar com os outros, com o outro; enquanto formos capazes de pensar plural; enquanto formos capazes de incluir os outros, o outro, nas nossas decisões, escolhas, projectos; enquanto os outros, o outro tiver lugar na nossa vida, enquanto lhe dermos lugar e um lugar em que se sinta em casa, está tudo bem e tudo muda.

Muda a tentação egoísta de só pensarmos em nós; muda a intransigência, a intolerância; muda o individualismo feroz.
"Eu e tu"é relação querida e vivida por Deus, que é, Ele próprio comunhão.

Naqueles olhos bons de se olhar eu encontrei o tu que me fez sentir em casa.
Estava tudo bem!

segunda-feira, 28 de maio de 2007

"Pôr-se a Caminho"-Ainda o Encontro...

Ainda o Encontro.

Aquele Encontro, naquele fim de semana, em Fátima, ali, aos pés da Mãe...
Naquela parede da sala, onde tanto se vira e ouvira; onde se partilhara e rezara; onde se rira ...
Naquela parede da sala onde se "peregrinara", foi projectado uma última imagem ( ou será que posso dizer a primeira? )
Nela estava escrito: "Pôr-se a Caminho"

"Pôr-se a caminho" é mais do que, só, pôr o "pé na estrada": é recomeçar; todo inteiro, ou juntando os pedaços do que ficou de si, e... IR, PARTIR, RECOMEÇAR!

Não é só o "pé"para andar, mas as "mãos" para trabalhar, tocar, curar; uma "cabeça" para discernir; um "coração" para bater, também, ao ritmo dos outros; uns "olhar"que salva; uma "boca"de onde saiem palavras de vida e que dão vida...

Não é só "pôr", mas "pôr-se". Não é só "dar", mas "dar-se"

"Pôr-se a caminho"é aceitar nascer de novo"!
E nascer de novo é aceitar tudo o que isso implica: mesmo a dor, as dores de parto, sabendo que são os custos de uma vida nova, novinha em folha!

"Pôr-se a caminho"é aceitar cair, levantar e recomeçar em cada dia, todos os dias.

domingo, 27 de maio de 2007

Fátima de novo

Sabia que se pode peregrinar pelas estradas do nosso querido país; sabia que se pode "peregrinar" na berma da estrada, parada, - olhando, admirando, servindo - aqueles que passam por nós na estrada e que ficam connosco na vida...

Sabia que se deve viver a vida, a tal do dia a dia, com alma de peregrino, mas este fim de semana descobri que podia aprender com os outros, que há tantas formas de peregrinar quantas as pessoas que estão dispostas a pôr o "pé na estrada".

Desde que eu não perca de vista a meta que é Ele, o caminho sou eu que o tenho que fazer. Ninguém caminha por mim.

Neste Encontro que vivi ali ao pé da Mãe, agradeci a Deus por todas as pessoas que tem posto no meu caminho, todas as pessoas, que me têm ajudado a caminhar e que, de muitos modos vão comigo.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Chamo-me Balbina

Durante muito tempo, não tive nome. Era só a carrinha e pronto!

Até que um dia...
A minha dona sentia que chegara "a hora da verdade" e ela tinha que me dizer "adeus":
porque "comia" muito; porque começava a ter, frequentemente, as minhas "maleitas"; por "isto" e por "aquilo" ...
Foi então, que, porque ela "desabafava" a sua pena, houve alguém, caridoso e amigo, que me "baptizou": Balbina!
Gostei, sinceramente! A minha dona ainda quis acrescentar um apelido: "Purificação" Não digo que não me dê um ar mais respeitável! - Balbina da Purificação - mas, pensando bem, prefiro ser só Balbina, para os mais íntimos.

Não sei que se passa convosco, mas comigo eu confesso : é tão importante ter um nome!
Ter um nome é ser reconhecido, diferente dos outros, e ser-se reconhecido é o primeiro passo para se ser amado. Amado como único, irrepetível.
Carrinhas há muitas; Balbina há só uma: eu!

Eu já suspeitava, mas agora tenho a certeza, não só porque tudo isto me foi explicado por ela, a minha dona, mas porque eu experimentei e experimento em cada dia.
A Balbina, que eu sou, viveu emoções, ouviu desbafos, foi testemunha muda de tanta vivência...
Claro que eu não passo de um "chaço" velho, mas acho que agora que eu tenho nome, tenho até...uma certa dignidade; não por aquilo que sou, mas por aquilo que comigo se fez, por aquilo que comigo, os outros foram capazes de fazer.

Acho que a dignidade está não tanto naquilo que se é, mas no serviço que se presta! Pelo menos foi isso que me ensinaram!

Não sei qual será o meu futuro, nem quero saber.
Sou sei uma coisa: serei sempre, Balbina, ao Vosso dispôr!

segunda-feira, 21 de maio de 2007

para quê? para quem?

Não, não me enganei.
Fiz a/s pergunta/s e quis deixar em aberto...

Ao contrário do seu costume,"Pé na estrada" pára um bocadinho mais para pensar, antes de falar/escrever...
Será que é fruto da peregrinação? Deus queira que sim!

"Atiçar a chama"´é bom, é importante.

Para quê? Já vimos que não se pode perder o calor bom, da chama que crepita, ilumina, daquela que aquece o corpo e a alma, que dá aquele brilhozinho nos olhos...

Para quem? Para aquele/a que está dentro de casa, no sossego, no aconchego, sem ser incomodado/a, a viver o calor... sozinho/a
Ou será que esse calor, essa chama que crepita tem de me iluminar e aquecer a mim, mas não SÓ...
O fogo, a chama, o calor, é para ser partilhado, tem de ser partilhado!

Como posso deixar de fora alguém? Aliás, o meu brilho nos olhos, tem de ser o reflexo do brilho dos olhos de alguém!
Na peregrinação fomos convidados a olhar e ser olhados. Olhar e deixar-se olhar, em verdade, na transparência. Olhar bom que aquece, que transforma, que cura!

Atiçar a chama para que o fogo se não perca, o fogo que foi vivido e experimentado, por mim, para que ele esteja presente na minha vida, mas também para que eu o leve, para que eu dele seja instrumento:

Ser iluminado, para iluminar;
Sentir o calor, para poder aquecer;
Receber o fogo, para o levar, para o ATEAR





para quê? para QUEM?

sábado, 19 de maio de 2007

"atiçar da chama"

Imaginem-se numa noite de inverno - o que nesta época do ano, parece uma ideia "peregrina"! - vá lá, tentem lá, não sejam "desmancha-prazeres"!

Noite de inverno e a lareira acesa, com aquele quentinho bom, que "aquece" a alma.
O calor envolve-nos, a paz entra de mansinho, enquanto o nosso olhar é atraído e pousa, irresistivelmente, na chama que baila - sempre diferente, sempre igual - alegre, viva, convidativa.
O tempo vai passando...
A chama já não é tão viva e, por instantes, até parece, que vai "morrer". Ainda salta, em derradeiros lampejos e "resistência" cada vez maior, mas acabará por desaparecer, de vez, se...
...se eu não atiçar a chama!
Se eu quiser que o fogo se não apague, eu tenho de "atiçar a chama"
Se eu quiser... Quando eu quiser... Sempre que eu quiser!

Claro que para isso... eu tenho de me levantar do meu assento; ajoelhar-me; curvar-me sobre o fogo que eu quero que se não apague e atiçar a chama! Eu tenho de me "mexer"e de lhe mexer; tenho de "recuperar" o fogo que lá está, escondido, debaixo das cinzas, e "ganhar", de novo, o calor que se estava a perder...

E se a pereginação fosse - como é - essa lareira acesa na/da minha vida?
Se ela fosse - como é - esse fogo que aquece a alma?

Que faço? Que devo fazer para atiçar a chama e "recuperar" o fogo, para que se não apague?

sexta-feira, 18 de maio de 2007

O ESSENCIAL

"Pé na estrada" tem uma mania, entre MUITAS:
Gosta de escrever!
E, às vezes até "rima" aquilo que gosta de "dizer"
Aqui vai o que escreveu a propósito da peregrinação:


Partiram, bem alegres, de manhã,
todos aqueles que a Ti foram chamados;
traziam na mochila, entre outras coisas,
p’ra Maria, pedidos e recados.

Mas tinham também outra tarefa,
na vida, procurar o “Essencial”
aquilo que, a todos, faz felizes
e nada tem a ver com o material

Da Montanha, eles tinham o Sermão,
a vida de Jesus, por companhia…
Era só seguir, com “pé na estrada”
a proposta que era feita, em cada dia.

Por entre “ressonos”, tosses e espirros
e as borregas que teimam em “chegar”
Há Aquele que é Pão, é alimento
e toda a Força no nosso caminhar

Em Vimieiro, rezaram a Maria;
em Cabeção, um amigo lhes foi dado.
Forros de Arrão – a grande “travessia”:
a dor que faz CRESCER um bom bocado!

Em Ulme, depois dos arrozais,
ao amigo, foi dada aquela luz,
que não se esconde, mas deve iluminar
o rosto amigo do Senhor Jesus

Nas mãos tiveram, bem perto, esse Senhor…
Olhar e ser olhado, que alegria!
P’ra trás, ficava a dor e o cansaço
mais perto, bem mais perto, está Maria


E junto de Maria, em segredo,
dela ouvi, de novo, este recado:
“Felizes somos, quando acreditamos,
Que o ESSENCIAL esteve, sempre, ao nosso lado!

quinta-feira, 17 de maio de 2007

terço "luminoso"

Oh! O meu terço partiu-se...
Aquele que a avó me tinha dado, o luminoso!

Quando lho tinha dado, ao meu neto, não tinha pensado na "luz". Tinha pensado no terço, sem mais...
De repente, olhei o terço partido com outros olhos, com novos olhos!

Para aquela criança, o terço servia para rezar - um bocadinho ! - mas era também, no meio dos lençois, às escuras, na noite, a companhia, a companhia luminosa!

De repente, dei por mim a pensar, o que é que o terço era para mim.:
Oração individual? Oração da comunidade? Ou outras "complicações" que me afastam da simplicidade, do ESSENCIAL?
Era a recitação do terço também, para mim, a luz da/ na minha noite escura, nas minhas trevas?

Maria, te peço, dá-me a simplicidade de uma criança. Que eu te fale e em ti confie, como a companheira dos momentos menos claros. Quero que sejas a minha LUZ , tu que mesmo sem entender, guardavas TUDO no teu coração.

terça-feira, 15 de maio de 2007

peregrinação "rima" com conversão

Foi isso que nos foi dito, por mais do que uma vez, ao longo da peregrinação - Peregrinação "rima" com conversão!

"Pé na estrada"achou que sim; fazia todo o sentido; gostou, mas ficou inquieta... (ligeiramente! ). Porquê? Porque, afinal, a peregrinação não era receber... Também tinha de dar! E o que ela tinha de dar, era uma coisa séria: a sua vontade, o seu compromisso de mudança, numa palavra: converter-se!

Levar "a sério" a peregrinação, tal como a vida, é olhar o que na nossa vida tem de ser "arrumado"; confrontar com a Palavra de Deus; voltar à vida com o olhar convertido e "partir"de novo mudando comportamentos, atitudes, modos de se aceitar, aceitar os outros e aceitar Deus como o ESSENCIAL na minha vida.

Converter-se ao ritmo das Bem-Aventuranças abre-me a alterações e mudanças de vida muito concretas. Querem ver só com alguns exemplos?

Ser "pobre no seu íntimo", pede-me que, a partir de agora, eu olhe duma maneira diferente os bens materiais; eu olhe duma maneira diferente quem tem - do que eu, sendo solidário e quem + do que eu, não sendo invejoso.
Pede-me que, a partir de agora, eu mude a minha maneira de viver e o meu estilo de vida; é um convite à partilha, à austeridade. Pede-me que, a partir de agora eu me veja "pobre" diante de Deus e, reconhecendo a minha dependência, eu agradeça tudo aquilo que Ele me dá, gratuitamente, em cada dia.

Depois de eu ouvir, reflectir e rezar as Bem-Aventuranças, já não posso mais ter atitudes de revolta, perante o sofrimento; atitudes de soberba; atitudes de falta de compreensão perante as dores daqueles que estão ao nosso lado. Tenho de perdoar mais, tenho de acolher mais, tenho de dizer NÃO à má-língua, à incomprensão, à falta de diálogo.

E, se assim fizer, em cada dia eu posso dizer, em verdade:

As minhas atitudes de vida mudaram, de tal modo que, para mim a peregrinação rimou, rima e vai rimar com conversão.



domingo, 13 de maio de 2007

Maio 2007 - dia 12

Fátima, chegámos:
Lado a lado - 3 a 3 - de braço dado - TODOS!

O estandarte à frente, entrámos no recinte do Santuário, naquele cair de tarde de 12 de Maio de 2007 - o grupo das Paróquias de Borba.
Vagarosamente, mas com determinação e alegria descemos até à Capelinha, uma mancha azul a avançar até à Mãe...
Não cantámos alto, nem era preciso!
Em cada um dos nossos corações, vibrava um canto de louvor e agradecimento, ali estávamos TODOS:
aqueles que tinham poucas "borregas"e aqueles que tinham os pés com um "enorme rebanho" das ditas; aqueles para quem a caminhada fora uma tarefa mais ou menos fácil e aqueles para quem cada quilómetro tinha sido uma séria conquista - vitória ganha ao cansaço, às dores, ao desânimo, à vontade reprimida de pensar que não se era capaz...
aqueles que tinham caminhado e aqueles que os tinham "seguido", parados na berma da estrada - vibrando com as vitórias, suspensos nos momentos de maior fragilidade- testemunhas vivas dessas duras batalhas, sofrendo "com", SEMPRE!

Parámos em frente à Capelinha. Ficamos o tempo que quisemos - sem tempo
O que cada um disse à Mãe, só ela e o seu Filho o sabem...
Dispersamos depois, devagarinho, saindo do recinto.

Para já não poder mais voltar, pelo menos para aqueles que, infelizmente para eles, iriam sair de Fátima nessa noite.

Foi que pé na estrada se deu bem conta de que, afinal, não estava assim tão preparada para
aceitar o que viesse, em total abandono e total confiança...
É difícil, deixar-se conduzir; é difícil, aceitar e aprender!

É difícil, muito difícil, amar e andar!



sexta-feira, 4 de maio de 2007

dia-a-dia

Amanhã, dia 6 de Maio - domingo, dia do Senhor-dia da mãe - de todas as mães e, em especial da MÃE- o grupo vai começar a caminhar!

Por Maria, iremos a Jesus; por Maria, iremos "à procura do Essencial"na/da vida de todos e de cada um! À procura daquilo que, verdadeiramente nos faz felizes; felizes, não de uma vida de uma qualquer felicidade passageira, que não satisfaz e que, quando passa, deixa um vazio, ainda maior...
A felicidade plena - a vida em plenitude

O ponto de partida é o próprio dom da vida, não apenas o dom de existir, mas o dom de existir para uma vida nova e uma "vida em abundância"

Amanhã, vamos caminhar, celebrando e agradecendo O DOM DA VIDA!

Em cada dia, em cada madrugada, o Senhor, gratuitamente, oferece-nos um dia, mais um dia para viver. Que vamos fazer com esse dom? Que fazemos com esse talento, com essa nova oportunidade, de mais um dia de vida? Como o vamos usar?

Dia 6 de Maio - dia de partir, dia para celebrar e agradecer!

nem sei

Tudos os anos, em cada peregrinação, há uma noite reservada à apresentação "oficial"dos participantes.

Sentados em círculo, depois do jantar, vamos dizendo o nosso nome; de onde vimos; se é para nós a primeira vez, ou se já somos "veteranos".

É sempre um momento bonito em que se gera um "quente"tempo de partilha e comunhão.
À luz fraca e difusa de velas e da iluminação duma varanda afastada, que favorece o clima de intimidade,vamos-nos ouvindo uns aos outros, devagar, sem pressas...
As expectativas dos estreantes; as certezas dos veteranos; as motivações que vão mudando, ano após ano, "ao sabor" da vida que nos vai trazendo, alegria e dor, preocupação e "sede /fome" de silêncio, paragem, tempo para procurar e ser encontrado.

Também "pé na estrada"tem vindo, ano após ano, com motivações diferentes:
primeiro começou por achar que vinha dar - apoio, ajuda, tudo o que fosse necessário...
Depois descobriu que recebia mais, muito mais do que aquilo que, eventualmente, podesse dar
Continuou a vir para dar, sabendo que iria, também receber!

E agora? Este ano? Desta vez?
"Pé na estrada", desta vez, curiosamente, nem sabe... Acho até que nem quer saber!

Quer ir, simplesmente!
Pobre, "deslavada", pequenina, frágil, sem muitas certezas, com poucas "seguranças", mas disposta a "deixar-se"conduzir.

Não quer fazer planos, quer deixar-se tocar.
Mais do que querer ir, ela quer deixar-se levar...
Não numa atitude de mera passividade, mas numa atitude de total abandono e total confiança.

Será que ela vai conseguir?


terça-feira, 1 de maio de 2007

à procura do ESSENCIAL...

O grupo de que "pé na estrada"faz parte vai, se Deus quiser, partir, de novo, para Fátima, dia 6 de Maio.
De Vila Viçosa a Fátima...De um Santuário a outro Santuário.

Ano após ano, guiados pelo nosso Pastor, caminhamos, reflectimos e rezamos um Tema. Este ano o Tema é: "À procura do ESSENCIAL - ao ritmo das Bem-Aventuranças".

É engraçado!
Quando acabei de escrever, sorri, ao olhar o título e apetece-me dizer e "pedir" muito:

Vamos à procura, se calhar, para no fim descobrirmos, se estivermos atentos, que o ESSENCIAL está e sempre esteve já, aqui, mesmo ao nosso lado.